sexta-feira, 23 de março de 2018


O normal e o patológico considerando o 
desenvolvimento e a aprendizagem

Por Dorcelina Custódio de Souza Lima Março/2018

A escola é o primeiro lugar em que se manifestam os indícios, as reclamações dos problemas e dificuldades de aprendizagem. É nessa perspectiva, que surge a Psicopedagogia para colaborar e contribuir com todos os indivíduos que fazem parte do universo educativo.
De acordo com Bossa (2007), é função da psicopedagogia refletir sobre o que é educar, o que é ensinar e aprender; como se desenvolvem estas atividades; como afetam subjetivamente os sistemas e metodologias educativas; quais as dificuldades basilares que influenciam no surgimento dos transtornos da aprendizagem e no fracasso escolar; e que propostas de mudança surgem neste espaço. Ou seja, para a autora o Sujeito aprendente é o objetivo maior das perguntas do psicopedagogo, e receptor de sua práxis educativa.
A autora ainda esclarece que o objeto de estudo da psicopedagogia passou por diferentes fases, e foi entendido de várias maneiras. Num primeiro momento, era o indivíduo que não podia aprender; em segundo lugar, o fato do sujeito não-aprender, é gerado e carregado de significados que esclarecem o seu não-aprender. A partir dessa visão o avanço desta área de estudo passou a entender que o objeto de estudo do Psicopedagogo, é sempre o sujeito em processo de aprendizagem.
O psicopedagogo pode atuar de forma preventiva e clínica. Neste sentido, podemos então falar em diferentes níveis de prevenção. No primeiro, o psicopedagogo atua nos processos educativos com o objetivo de diminuir a frequência dos problemas de aprendizagem, tendo como propósito as questões didáticos metodológicas, bem como na formação e orientação dos professores, além do aconselhamento a família. Num segundo momento, o objetivo maior é tratar os problemas de aprendizagem já instalados, criando um diagnóstico da realidade institucional e elaborando planos de intervenção baseados na realidade diagnosticada. E no terceiro momento, o grande objetivo é eliminar os transtornos já instalados, a partir de um procedimento clínico com todas as suas implicações. Na práxis clínica, o psicopedagogo deve reconhecer a sua própria subjetividade na relação, pois o mesmo é um indivíduo que estuda outro.
O estudo da aprendizagem precisa estar engendrado nas teorias que fundamentam a prática psicopedagógica, embasando tanto o caráter preventivo, como o clínico. Portanto, a psicopedagogia vem contribuir com os sujeitos que possuem dificuldades de aprendizagem, que reprovam, que não conseguem acompanhar os seus colegas e que muitas vezes são “deixados” de lado no processo de ensino aprendizagem. A insatisfação e a inquietação dos profissionais que trabalham com as dificuldades de aprendizagem fizeram com que surgissem a psicopedagogia, permitindo que diversas áreas do conhecimento como Psicologia Cognitiva, Psicanálise, Sociologia, Linguística, Antropologia, Filosofia, entre outros, no sentido de colaborar os educandos que manifestam dificuldades de aprendizagem.
Sendo assim a aprendizagem está elencada ao processo de aquisição dos conhecimentos, habilidades, valores e atitudes adquiridos através do estudo, do ensino ou da experiência.
Para Nádia Bossa (2000), aprender significa desenvolver habilidades para lidar com a realidade externa, desde a habilidade da fala, de se relacionar, comer, estudar e aprender questões complexas que são tratadas no mundo escolar. A autora esclarece que para aprender nós necessitamos da nossa condição humana. Nesse sentido nos transformamos a partir da aprendizagem. Sendo assim, o processo envolve a participação do sujeito da aprendizagem, ou seja, quando aprendemos estão envolvidos neste processo nossa inteligência e os processos cognitivos, nosso corpo como instrumento de apreensão dos objetos de conhecimento, nossa condição efetiva e emocional e a condição biológica do nosso organismo.
As autoras José e Coelho (1993), falam da importância dos pais, educadores e professores nos processos fundamentais do desenvolvimento humano. Para as autoras “desenvolvimento abrange todas as modificações, que ocorrem no organismo e na personalidade”. Nesta visão as autoras esclarecem que é o desenvolvimento corporal, orgânico, neurológico que abarca os padrões internos que resultam o comportamento. Nesta perspectiva a maturação gera o desenvolvimento potencial do organismo independente de situações como treino e estimulação ambiental. Sendo assim na visão das autoras o cérebro precisa de maturação para que a aprendizagem se processe. “Toda atividade humana depende da maturação. Desde o mais simples comportamento como segurar um objeto até as abstrações e raciocínios mais complexos”. (José e Coelho, 2009,p. 10).
Nesse sentido as autoras explicitam que a aprendizagem precisa ser significativa para os educandos. Dentro desta perspectiva David Alsubel (1982), salienta que a aprendizagem significativa se realiza somente quando um novo conhecimento se conecta a outro existente de forma substantiva. Para que isto aconteça é necessário querer aprender. No entanto, é preciso um contexto de ensino potencialmente significativo, articulado pelo professor que leve em conta as condições em que o aluno é posto, e a aplicação social do instrumento a ser estudado.
José e Coelho(2009), ainda explicam que, a aprendizagem precisa de motivação. No entendimento das autoras, desde o início de seu desenvolvimento as crianças precisam ser motivadas para que não venham fracassar em seu crescimento cognitivo. Pois o medo de fracassar faz com que elas deixem de tentar um novo comportamento. Nesse sentido o papel do professor é muito importante para influenciar a construção da autoimagem e o modo como eles se veem. É importante que o professor conheça como ocorrem as manifestações da mente infantil dentro de suas faixas etárias para não incorrer no erro de considerar os problemas que são considerados normais no progresso evolutivo do desenvolvimento das crianças tais como o onimismo e o egocentrismo. Neste sentido as autoras explicitam que tendo conhecimento da psicologia e da didática ele deve ter sempre em mente o que é normal, problemático e anormal(patológico) no comportamento da criança e em seu desenvolvimento e habilidades nas diferentes fases. Sendo assim, compete ao professor fazer o reconhecimento das particularidades próprias do comportamento infantil em cada faixa etária.
Para que a criança tenha um desenvolvimento saudável é preciso um ambiente harmonioso, autêntico, onde ela encontre amor e segurança, que satisfaçam as necessidades inerentes a sua condição infantil. Quando isso não ocorre acontece uma luta entre o que a criança exige e o ambiente em que a criança faz parte. Inevitavelmente isso levará a criança a um estado de desequilíbrio, que poderá gerar comportamentos problemáticos ou patológicos.
José e Coelho apud Mielnik p. 25, esclarecem que (…) “a problemática abrange especialmente o relacionamento difícil com o meio e as pessoas”. Para as autoras as crianças podem apresentar dificuldades emocionais, supersensibilidade, sentimento de rejeição, sensação de pânico em certas situações, comportamento ansioso ou infantilização. Ainda sobre o autor citado pelas autoras, quando este quadro persistir se tornando uma compulsão deve-se considerar o quadro como anormal ou patológico. Sendo assim a conduta normal ou patológica pode ser de origem genética ou ambiental.

REFERÊNCIAS
AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982
JOSÈ Elizabete da assunção; Maria T C. Distúrbios da Aprendizagem, 12ª edição. São Paulo, Ática, 2009
BOSSA, Nádia A. A psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da prática Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000a























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