O
normal e o patológico considerando o
desenvolvimento e a
aprendizagem
Por Dorcelina Custódio de Souza Lima Março/2018
A
escola é o primeiro lugar em que se manifestam os indícios, as
reclamações dos problemas e dificuldades de aprendizagem. É nessa
perspectiva, que surge a Psicopedagogia para colaborar e contribuir
com todos os indivíduos que fazem parte do universo educativo.
De
acordo com Bossa (2007), é função da psicopedagogia refletir sobre
o que é educar, o que é ensinar e aprender; como se desenvolvem
estas atividades; como afetam subjetivamente os sistemas e
metodologias educativas; quais as dificuldades basilares que
influenciam no surgimento dos transtornos da aprendizagem e no
fracasso escolar; e que propostas de mudança surgem neste espaço.
Ou seja, para a autora o Sujeito aprendente é o objetivo maior das
perguntas do psicopedagogo, e receptor de sua práxis educativa.
A autora
ainda esclarece que o objeto de estudo da psicopedagogia passou por
diferentes fases, e foi entendido de várias maneiras. Num primeiro
momento, era o indivíduo que não podia aprender; em segundo lugar,
o fato do sujeito não-aprender, é gerado e carregado de
significados que esclarecem o seu não-aprender. A partir dessa visão
o avanço desta área de estudo passou a entender que o objeto de
estudo do Psicopedagogo, é sempre o sujeito em processo de
aprendizagem.
O
psicopedagogo pode atuar de forma preventiva e clínica. Neste
sentido, podemos então falar em diferentes níveis de prevenção.
No primeiro, o psicopedagogo atua nos processos educativos com o
objetivo de diminuir a frequência dos problemas de aprendizagem,
tendo como propósito as questões didáticos metodológicas, bem
como na formação e orientação dos professores, além do
aconselhamento a família. Num segundo momento, o objetivo maior é
tratar os problemas de aprendizagem já instalados, criando um
diagnóstico da realidade institucional e elaborando planos de
intervenção baseados na realidade diagnosticada. E no terceiro
momento, o grande objetivo é eliminar os transtornos já instalados,
a partir de um procedimento clínico com todas as suas implicações.
Na práxis clínica, o psicopedagogo deve reconhecer a sua própria
subjetividade na relação, pois o mesmo é um indivíduo que estuda
outro.
O
estudo da aprendizagem precisa estar engendrado nas teorias que
fundamentam a prática psicopedagógica, embasando tanto o caráter
preventivo, como o clínico. Portanto,
a psicopedagogia vem contribuir com os sujeitos que possuem
dificuldades de aprendizagem, que reprovam, que não conseguem
acompanhar os seus colegas e que muitas vezes são “deixados” de
lado no processo de ensino aprendizagem. A insatisfação e a
inquietação dos profissionais que trabalham com as dificuldades de
aprendizagem fizeram com que surgissem a psicopedagogia, permitindo
que diversas áreas do conhecimento como Psicologia Cognitiva,
Psicanálise, Sociologia, Linguística, Antropologia, Filosofia,
entre outros, no sentido de colaborar os educandos que manifestam
dificuldades de aprendizagem.
Sendo
assim a aprendizagem está elencada ao processo de aquisição dos
conhecimentos, habilidades, valores e atitudes adquiridos através do
estudo, do ensino ou da experiência.
Para
Nádia Bossa (2000), aprender significa desenvolver habilidades para
lidar com a realidade externa, desde a habilidade da fala, de se
relacionar, comer, estudar e aprender questões complexas que são
tratadas no mundo escolar. A autora esclarece que para aprender nós
necessitamos da nossa condição humana. Nesse sentido nos
transformamos a partir da aprendizagem. Sendo assim, o processo
envolve a participação do sujeito da aprendizagem, ou seja, quando
aprendemos estão envolvidos neste processo nossa inteligência e os
processos cognitivos, nosso corpo como instrumento de apreensão dos
objetos de conhecimento, nossa condição efetiva e emocional e a
condição biológica do nosso organismo.
As
autoras José e Coelho (1993), falam da importância dos pais,
educadores e professores nos processos fundamentais do
desenvolvimento humano. Para as autoras “desenvolvimento abrange
todas as modificações, que ocorrem no organismo e na
personalidade”. Nesta visão as autoras esclarecem que é o
desenvolvimento corporal, orgânico, neurológico que abarca os
padrões internos que resultam o comportamento. Nesta perspectiva a
maturação gera o desenvolvimento potencial do organismo
independente de situações como treino e estimulação ambiental.
Sendo assim na visão das autoras o cérebro precisa de maturação
para que a aprendizagem se processe. “Toda atividade humana depende
da maturação. Desde o mais simples comportamento como segurar um
objeto até as abstrações e raciocínios mais complexos”. (José
e Coelho, 2009,p. 10).
Nesse
sentido as autoras explicitam que a aprendizagem precisa ser
significativa para os educandos. Dentro desta perspectiva David
Alsubel (1982), salienta que a aprendizagem significativa se realiza
somente quando um novo conhecimento se conecta a outro existente de
forma substantiva. Para que isto aconteça é necessário querer
aprender. No entanto, é preciso um contexto de ensino potencialmente
significativo, articulado pelo professor que leve em conta as
condições em que o aluno é posto, e a aplicação social do
instrumento a ser estudado.
José
e Coelho(2009), ainda explicam que, a aprendizagem precisa de
motivação. No entendimento das autoras, desde o início de seu
desenvolvimento as crianças precisam ser motivadas para que não
venham fracassar em seu crescimento cognitivo. Pois o medo de
fracassar faz com que elas deixem de tentar um novo comportamento.
Nesse sentido o papel do professor é muito importante para
influenciar a construção da autoimagem e o modo como eles se veem.
É importante que o professor conheça como ocorrem as manifestações
da mente infantil dentro de suas faixas etárias para não incorrer
no erro de considerar os problemas que são considerados normais no
progresso evolutivo do desenvolvimento das crianças tais como o
onimismo e o egocentrismo. Neste sentido as autoras explicitam que
tendo conhecimento da psicologia e da didática ele deve ter sempre
em mente o que é normal, problemático e anormal(patológico) no
comportamento da criança e em seu desenvolvimento e habilidades nas
diferentes fases. Sendo assim, compete ao professor fazer o
reconhecimento das particularidades próprias do comportamento
infantil em cada faixa etária.
Para
que a criança tenha um desenvolvimento saudável é preciso um
ambiente harmonioso, autêntico, onde ela encontre amor e segurança,
que satisfaçam as necessidades inerentes a sua condição infantil.
Quando isso não ocorre acontece uma luta entre o que a criança
exige e o ambiente em que a criança faz parte. Inevitavelmente isso
levará a criança a um estado de desequilíbrio, que poderá gerar
comportamentos problemáticos ou patológicos.
José
e Coelho apud Mielnik p. 25, esclarecem que (…) “a problemática
abrange especialmente o relacionamento difícil com o meio e as
pessoas”. Para as autoras as crianças podem apresentar
dificuldades emocionais, supersensibilidade, sentimento de rejeição,
sensação de pânico em certas situações, comportamento ansioso ou
infantilização. Ainda sobre o autor citado pelas autoras, quando
este quadro persistir se tornando uma compulsão deve-se considerar o
quadro como anormal ou patológico. Sendo assim a conduta normal ou
patológica pode ser de origem genética ou ambiental.
REFERÊNCIAS
AUSUBEL, D.
P. A aprendizagem
significativa: a teoria de David Ausubel. São
Paulo: Moraes, 1982
JOSÈ
Elizabete da assunção; Maria T C. Distúrbios
da Aprendizagem, 12ª
edição. São Paulo, Ática, 2009
BOSSA,
Nádia A. A
psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da prática
Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000a
Nenhum comentário:
Postar um comentário