A importância da atenção e da memória para o processo de aprendizagem
Dorcelina Custódio de Souza Lima março/2018
Por
intermédio da atenção o sujeito escolhe os estímulos que
aparentam ter mais importância e que sejam mais atrativos a nossas
predileções, intenções ou funções imediatas e veta as que não
sejam de grande importância, neste sentido a atenção
é imprescindível na aprendizagem. O cérebro muda em contato com o
ambiente continuamente. A formação da memória é mais eficiente
quando a nova informação é associada a um conhecimento anterior.
Precisamos
nos concentrar em certas características do ambiente e descartar
outras, pois se não fosse assim, a quantidade de informação
armazenada em nossa mente seria imensa e desorganizada que nos
impediria de realizar qualquer atividade. Pela atenção, aquilo que
armazenamos em nossa mente são integrados e por isso podemos
externar nossos conteúdos intelectuais e reflexivos. De acordo com
Ferreira (2014), estímulos ou eventos externos chamam a nossa
atenção, mas a atenção pode ser direcionada a estímulos
endógenos ou fenômenos mentais relacionados com a motivação e a
vontade. Nesse sentido a autora esclarece que a atenção está
relacionada com a consciência, o estado de alerta, os afetos, a
motivação, a memória e a percepção.
Piper (2013), esclarece que um
bom resultado na aprendizagem é definido por múltiplos fatores,
dentre os quais são destacados a atenção, motivação, dedicação,
necessidade e fatores cognitivos. A atenção é importante para que
se consiga apreender e armazenar na memória de longo prazo os dados
que nos são apresentados. A motivação e a necessidade dão
substancialidade à aprendizagem. Nesta perspectiva, (Ferreira
2014,p. 107) esclarece que “Só com a atenção intacta é que os
processos cognitivos podem acontecer”.
Kandel
(2009, p.339) destaca que
“a atenção é como um filtro”, em que alguns objetos são
colocados em destaque, em detrimento
de outros, nesta visão, Prestar atenção
em algo significa dar foco a determinados aspectos e, ao mesmo tempo,
descartar (ou ignorar) inúmeros outros que estão a nossa volta.
A
todo momento, os animais são inundados por um vasto número de
estímulos sensoriais
e, apesar disso, eles prestam atenção a apenas um estímulo ou a um
número muito reduzido dele, ignorando ou suprimindo os demais. A
capacidade do cérebro de processar a informação sensorial é mais
limitada do que a capacidade de seus receptores para mensurar o
ambiente. A atenção, portanto, funciona como um filtro,
selecionando alguns objetos para processamento adicional. [...] Em
nossa experiência momentânea nos concentramos em informações
sensoriais específicas e excluímos (mais ou menos) as demais
(KANDEL,
2009, p.339).
O
estudo da atenção investiga como o cérebro seleciona os estímulos
sensoriais que descarta dos que devem ser transmitidos para níveis
superiores de pensamentos. A atenção
está relacionada a vários
fatores: o alerta, controla o nível geral de responsividade, a
orientação alinha os órgãos sensoriais para determinado estímulo,
a atenção seletiva dá preferência a determinado estímulo entre
outros conteúdos definidos que estão em nossa consciência, a
atenção sustentada mantém a vigilância; a atenção dividida
possibilita que o foco atencional seja dividido em vários estímulos
ao mesmo tempo.
Segundo
Sternberg (2000) a memória é o acesso por onde buscamos
experiências anteriores, com o intuito de utilizar essa informação
no presente. Sendo assim a memória é a habilidade de atrair,
guardar e recuperar as informações disponíveis.
Para
Lent (2001), há uma sucessão de episódios nos processos
mnemônicos, o primeiro é a aquisição da informação, processa-se
o armazenamento e por fim a recuperação da informação através da
recordação. A
atenção é um fator primordial para a aprendizagem, sendo assim a
aprendizagem faz com que os aspectos da memória sejam ligados, nesta
perspectiva, quando o indivíduo tem um bom nível de atenção e um
bom nível de memória, consequentemente terá um bom nível de
aprendizagem. Logo, atenção, memória e aprendizagem estão
relacionadas no processo de desenvolvimento dos sujeitos.
De acordo com Ferreira
(2012,p.127), “somos quem somos porque lembramos do que vivemos, e
dessa forma construímos nossa identidade.” Para a autora o
indivíduo pode pensar que é fruto de suas escolhas, no entanto só
sabemos das escolhas feitas que nos lembramos e do que elas nos
ensinam. A memória liga presente e passado assim nos prepara para
nossa experiência de futuro, agregando nossos pensamentos e
impressões pela sua capacidade de reter informações e ajustá-las
conforme seus propósitos.
A autora ainda esclarece que
a memória é dividida em curto e longo prazo. A memória de curto
prazo retém por minutos ou horas pequenas quantidades de material.
Ela codifica a informação sensorial ou de superfície, ao passo
que, a memória de longo prazo, dura dias, semanas, anos e faz a
codificação profunda ou semântica.
As
memórias e a atenção são alguns dos preditores de maior destaque
para uma aprendizagem adequada. A memória de trabalho é uma das
memórias que recebe grande ênfase na aprendizagem pois ela, além
de manipular informações novas advindas das vias sensoriais, faz a
ligação com a memória de longo prazo, ou seja, com o conhecimento
já armazenado. A memória de trabalho é um componente da função
executiva que armazena e retém temporariamente a informação
enquanto uma determinada tarefa está sendo realizada, assim, esta
memória dá suporte às atividades cognitivas (PIPER,
Francieli Kramer,2013,p.2)
Iván
Izquierdo destaca a aproximação entre memória e Educação, na
visão do autor, só podemos considerar uma informação como
aprendida quando podemos lembrar-nos dela.
“Memória”
significa aquisição, formação, conservação e evocação de
informações. A aquisição é também chamada de aprendizado ou
aprendizagem: só se “grava” aquilo que foi aprendido.
(IZQUIERDO, 2011, p. 11).
A
memória pode ser subdividida em etapas:
EVENTOS
EXTERNOS > SELEÇÃO > AQUISIÇÃO >RETENÇÃO
TEMPORÁRIA >
CONSOLIDAÇÃO
>RETENÇÃO DURADOURA
|
Aquisição
é tudo aquilo que a gente interage com o meio através dos sentidos
que vão originar memória, um registro no córtex cerebral, não
importando qual sentido vai ser, verbal, visual, gustativo, tátil,
motor etc. A partir dos sentidos nós temos entradas de sinais no
córtex cerebral onde vamos ter a formação das memórias, ou seja,
o aprendizado. Somos aquilo que recordamos e também o que resolvemos
esquecer. De acordo com Izqierdo, quanto mais usamos a memória
(evocação) mais a fortalecemos, e menos esquecemos.
Por
fim, falta de atenção não é sinônimo de indisciplina ou de
desinteresse por parte do aluno. Ela pode ser gerada por um fator que
causou desinteresse ou por situações adversas à aprendizagem. Para
uma aprendizagem significativa, o professor deve atentar para a
interação entre o que ele sabe e o saber do aluno, contextualizando
e refletindo sobre a sua prática, moldando-a caso seja preciso.
Aprender não é só memorizar informações. É necessário fazer
referências, desconstruir e refletir, repensar, construir hipóteses
e testá-las, para que os conteúdos sejam apreendidos e fiquem na
memória do aluno, oferecendo assim possibilidades de novas
aprendizagens.
REFERÊNCIAS
FERREIRA, Maria Gabriela Ramos. Neuropsicologia e aprendizagem.
Curitiba. Intersaberes, 2014
IZQUIERDO, Ivan. Questões sobre memória. São Leopoldo: Unisinos,
2004.
KANDEL,
E. R. Em
busca da memória.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
LENT
R. Cem
bilhões de neurônios: os conceitos fundamentais da neurociência.
Editora Atheneu. São Paulo, 2001.
PIPER,
Francieli Kramer. A IMPORTÂNCIA DA MEMÓRIA DE
TRABALHO PARA A APRENDIZAGEM,2013.Disponível em
<http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/XIII_semanadeletras/pdfs/francielipiper.pdf>
Acesso em 02 de março de 2018.
STEMBERG,
R. J. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
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