sexta-feira, 23 de março de 2018


A importância da atenção e da memória para o processo de aprendizagem

Dorcelina Custódio de Souza Lima março/2018

Resultado de imagem para IMAGEM DE MEMÓRIA

Por intermédio da atenção o sujeito escolhe os estímulos que aparentam ter mais importância e que sejam mais atrativos a nossas predileções, intenções ou funções imediatas e veta as que não sejam de grande importância, neste sentido a atenção é imprescindível na aprendizagem. O cérebro muda em contato com o ambiente continuamente. A formação da memória é mais eficiente quando a nova informação é associada a um conhecimento anterior.
Precisamos nos concentrar em certas características do ambiente e descartar outras, pois se não fosse assim, a quantidade de informação armazenada em nossa mente seria imensa e desorganizada que nos impediria de realizar qualquer atividade. Pela atenção, aquilo que armazenamos em nossa mente são integrados e por isso podemos externar nossos conteúdos intelectuais e reflexivos. De acordo com Ferreira (2014), estímulos ou eventos externos chamam a nossa atenção, mas a atenção pode ser direcionada a estímulos endógenos ou fenômenos mentais relacionados com a motivação e a vontade. Nesse sentido a autora esclarece que a atenção está relacionada com a consciência, o estado de alerta, os afetos, a motivação, a memória e a percepção.
Piper (2013), esclarece que um bom resultado na aprendizagem é definido por múltiplos fatores, dentre os quais são destacados a atenção, motivação, dedicação, necessidade e fatores cognitivos. A atenção é importante para que se consiga apreender e armazenar na memória de longo prazo os dados que nos são apresentados. A motivação e a necessidade dão substancialidade à aprendizagem. Nesta perspectiva, (Ferreira 2014,p. 107) esclarece que “Só com a atenção intacta é que os processos cognitivos podem acontecer”.
Kandel (2009, p.339) destaca que “a atenção é como um filtro”, em que alguns objetos são colocados em destaque, em detrimento de outros, nesta visão, Prestar atenção em algo significa dar foco a determinados aspectos e, ao mesmo tempo, descartar (ou ignorar) inúmeros outros que estão a nossa volta.
A todo momento, os animais são inundados por um vasto número de estímulos sensoriais e, apesar disso, eles prestam atenção a apenas um estímulo ou a um número muito reduzido dele, ignorando ou suprimindo os demais. A capacidade do cérebro de processar a informação sensorial é mais limitada do que a capacidade de seus receptores para mensurar o ambiente. A atenção, portanto, funciona como um filtro, selecionando alguns objetos para processamento adicional. [...] Em nossa experiência momentânea nos concentramos em informações sensoriais específicas e excluímos (mais ou menos) as demais (KANDEL, 2009, p.339).
O estudo da atenção investiga como o cérebro seleciona os estímulos sensoriais que descarta dos que devem ser transmitidos para níveis superiores de pensamentos. A atenção
está relacionada a vários fatores: o alerta, controla o nível geral de responsividade, a orientação alinha os órgãos sensoriais para determinado estímulo, a atenção seletiva dá preferência a determinado estímulo entre outros conteúdos definidos que estão em nossa consciência, a atenção sustentada mantém a vigilância; a atenção dividida possibilita que o foco atencional seja dividido em vários estímulos ao mesmo tempo.
Segundo Sternberg (2000) a memória é o acesso por onde buscamos experiências anteriores, com o intuito de utilizar essa informação no presente. Sendo assim a memória é a habilidade de atrair, guardar e recuperar as informações disponíveis.
Para Lent (2001), há uma sucessão de episódios nos processos mnemônicos, o primeiro é a aquisição da informação, processa-se o armazenamento e por fim a recuperação da informação através da recordação. A atenção é um fator primordial para a aprendizagem, sendo assim a aprendizagem faz com que os aspectos da memória sejam ligados, nesta perspectiva, quando o indivíduo tem um bom nível de atenção e um bom nível de memória, consequentemente terá um bom nível de aprendizagem. Logo, atenção, memória e aprendizagem estão relacionadas no processo de desenvolvimento dos sujeitos.
De acordo com Ferreira (2012,p.127), “somos quem somos porque lembramos do que vivemos, e dessa forma construímos nossa identidade.” Para a autora o indivíduo pode pensar que é fruto de suas escolhas, no entanto só sabemos das escolhas feitas que nos lembramos e do que elas nos ensinam. A memória liga presente e passado assim nos prepara para nossa experiência de futuro, agregando nossos pensamentos e impressões pela sua capacidade de reter informações e ajustá-las conforme seus propósitos.
A autora ainda esclarece que a memória é dividida em curto e longo prazo. A memória de curto prazo retém por minutos ou horas pequenas quantidades de material. Ela codifica a informação sensorial ou de superfície, ao passo que, a memória de longo prazo, dura dias, semanas, anos e faz a codificação profunda ou semântica.
As memórias e a atenção são alguns dos preditores de maior destaque para uma aprendizagem adequada. A memória de trabalho é uma das memórias que recebe grande ênfase na aprendizagem pois ela, além de manipular informações novas advindas das vias sensoriais, faz a ligação com a memória de longo prazo, ou seja, com o conhecimento já armazenado. A memória de trabalho é um componente da função executiva que armazena e retém temporariamente a informação enquanto uma determinada tarefa está sendo realizada, assim, esta memória dá suporte às atividades cognitivas (PIPER, Francieli Kramer,2013,p.2)
Iván Izquierdo destaca a aproximação entre memória e Educação, na visão do autor, só podemos considerar uma informação como aprendida quando podemos lembrar-nos dela.
Memória” significa aquisição, formação, conservação e evocação de informações. A aquisição é também chamada de aprendizado ou aprendizagem: só se “grava” aquilo que foi aprendido. (IZQUIERDO, 2011, p. 11).
A memória pode ser subdividida em etapas:

EVENTOS EXTERNOS > SELEÇÃO > AQUISIÇÃO >RETENÇÃO TEMPORÁRIA >
CONSOLIDAÇÃO >RETENÇÃO DURADOURA

Aquisição é tudo aquilo que a gente interage com o meio através dos sentidos que vão originar memória, um registro no córtex cerebral, não importando qual sentido vai ser, verbal, visual, gustativo, tátil, motor etc. A partir dos sentidos nós temos entradas de sinais no córtex cerebral onde vamos ter a formação das memórias, ou seja, o aprendizado. Somos aquilo que recordamos e também o que resolvemos esquecer. De acordo com Izqierdo, quanto mais usamos a memória (evocação) mais a fortalecemos, e menos esquecemos.
Por fim, falta de atenção não é sinônimo de indisciplina ou de desinteresse por parte do aluno. Ela pode ser gerada por um fator que causou desinteresse ou por situações adversas à aprendizagem. Para uma aprendizagem significativa, o professor deve atentar para a interação entre o que ele sabe e o saber do aluno, contextualizando e refletindo sobre a sua prática, moldando-a caso seja preciso. Aprender não é só memorizar informações. É necessário fazer referências, desconstruir e refletir, repensar, construir hipóteses e testá-las, para que os conteúdos sejam apreendidos e fiquem na memória do aluno, oferecendo assim possibilidades de novas aprendizagens.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, Maria Gabriela Ramos. Neuropsicologia e aprendizagem. Curitiba. Intersaberes, 2014

IZQUIERDO, Ivan. Questões sobre memória. São Leopoldo: Unisinos, 2004.

KANDEL, E. R. Em busca da memória. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
LENT R. Cem bilhões de neurônios: os conceitos fundamentais da neurociência. Editora Atheneu. São Paulo, 2001.

PIPER, Francieli Kramer. A IMPORTÂNCIA DA MEMÓRIA DE TRABALHO PARA A APRENDIZAGEM,2013.Disponível em <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/XIII_semanadeletras/pdfs/francielipiper.pdf> Acesso em 02 de março de 2018.

STEMBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.


















Nenhum comentário:

Postar um comentário