Por:
Dorcelina Lima
A
família tem um papel relevante no desenvolvimento cognitivo das
crianças, visto que é no seio familiar que se efetiva as primeiras
aprendizagens. Sendo
assim é importante salientar o grupo familiar como fator relevante
no processo de aprendizagem da criança, seja para favorecer uma
aprendizagem significativa, ou para dificultá-la. Neste sentido, as
relações familiares estão em pauta na questão dos problemas de
aprendizagem.
Uma
parcela enorme de crianças em todo Brasil sofrem com problemas de
aprendizagem, de acordo com Rubinstein (2012), apesar dos esforços
de estudiosos nas áreas da Psicologia, Neurologia e Psicopedagogia
para melhorar essa perspectiva, família e escola apresentam queixas
de aprendizagem. A autora relata que 90% das crianças que procuram
atendimento clínico mental demostram ter problemas na escola.
Nesta
visão, Braga et al(2007), esclarecem que existem muitas questões
referentes ao fracasso escolar que devem ser compreendidas de
diferentes formas, dentre elas, fatores orgânicos, cognitivos e
afetivos, a estrutura familiar, o contexto social e as instituições
de ensino, além das relações estabelecidas no cotidiano escolar.
“As crianças se tornam fracassadas escolares a partir do modo como
a escola aborda, ataca, nega e desqualifica, o degrau, a diferença
social, o desencontro de linguagens entre as crianças de extração
pobre de um lado, e a escola comprometida com outras extrações
sociais de outro”, (RUBINSTEIN, Edith,2012, p.56)
Neste
sentido Braga (2007) relata que estudos comprovados pela Psiquiatria
e outras áreas, afirmam que uma criança bem cuidada pela família é
de importância ímpar para sua saúde mental futura. A autora ainda
conversa com diversos autores que falam da influência das relações
familiares na aprendizagem. Neste sentido O diálogo entre pais
e filhos, as vivências de atitude de amor e respeito, as regras, os
valores sociais são relevantes para a formação da personalidade,
do caráter, assim como na aprendizagem. Assim, Munhoz (2012) declara
que “o ensino/aprendizagem dos filhos ganha significado para os
pais, quando eles entendem e tomam conhecimento sobre a missão e
objetivos da escola de seu filho”.
Para
Nádia Bossa (2000) a dimensão da afetividade é fundamental no
processo de aprendizagem escolar e nas relações de um modo geral,
quer sejam relações interpessoais, quer seja nas relações do
próprio sujeito com a realidade. Para a autora o mundo afetivo se
inicia na relação com as primeiras pessoas que fazem parte da nossa
vida. Neste ponto de vista, a participação da família no espaço
escolar é muito importante para o processo ensino aprendizagem.
Família e escola são a estrutura que fazem com que a criança
estabeleça relações com o meio social. A família e a escola
integrada, constituem um desafio, já que unidas podem perceber
dificuldades de aprendizagem que a criança a priori possa
apresentar, sendo como um suporte uma em benefício outra. Nesta
perspectiva:
O
conhecimento é o conjunto do saber histórico de uma comunidade que
é suscetível de ser transmitido. Os processos que permitem a
transmissão efetiva do conhecimento são os da aprendizagem. Uma
criança só aprende algo a partir do outro, da relação com o
mundo, e portanto, com o outro, ela será capaz de modificar numa
reconstrução própria, utilizando seus sentimentos e sua cognição,
a fim de se apropriar do conhecimento que vai adquirindo nessas
relações. (BRAGA et al, 2012)
Para
que haja a participação efetiva da família na escola, é preciso
uma mudança de atitude por parte do grupo familiar e escolar. É
normal pais acharem que o contato tem que ser estabelecido pela
escola, enquanto a escola, no que lhe diz respeito, coloca todo
encargo sobre a família. Em muitos casos, os pais só são acionados
quando acontece algo muito sério com o aluno. Em outros casos,
quando a família procura a escola, a instituição, nem sempre está
preparada para um bom acolhimento, e o inverso também acontece.
Neste sentido, a missão da escola/família é a de desconstruir essa
problemática com diálogo, criando estratégias positivas para
aproximar ambos, e isso tem que ser o dever de toda a comunidade
escolar.
Para
que isso ocorra deve-se buscar a efetividade das relações
família/escola, fazendo com que o conselho escola/comunidade
funcione de fato, que temas importantes sejam tratados, que soluções
sejam buscadas em conjunto, que não se crie preconceito de ambas as
partes, da família em relação a escola e vice-versa, desenvolvendo
assim ações de parceria.
Para
Munhoz:
Acreditamos
que as escolas precisam ter dentro de suas equipes de trabalho
pedagógico a figura do orientador educacional, com enfoque ao
trabalho de orientação ao professor, para que os espaços de
conversas na escola possam ser além de instalados, efetivos e
duradouros. Apesar de todas as “concorrências” que a escola
sofre com as diferentes atividades oferecidas às crianças e aos
jovens, podemos considerar que o poder ainda aparente dessa
instituição deve ser valorizado e otimizado, não como erroneamente
muitas vezes se faz, usando autoridade e autoritarismo, mas criando a
possibilidade de conversas e compreensão entre as partes é que se
obtém. (MUNHOZ,2012)
Lamoglia
(2014,p.53), esclarece que a escola ao receber um aluno com algum
tipo de dificuldade, seja de relacionamento, de linguagem, ou outra,
deve proceder orientando a família para que busque uma avaliação
com um Neurologista ou Psiquiatra para que este diagnostique a causa
do problema. De posse do laudo médico a família deve ser orientada
para procurar especialistas como Psicopedagogo Clínico,
fonoaudiólogo entre outros, dependendo da investigação feita na
criança. Estes profissionais acompanharão o desenvolvimento do
aluno e trabalhar em conjunto com a escola.
No
que tange aos profissionais da escola, estes devem ser orientados a
fazer caso necessário adequações curriculares que serão
importantes para a adaptação desses alunos em cada caso específico.
Mesmo que não haja um diagnóstico fechado, a escola deve entender
que cada criança tem uma maneira única de aprender, considerando
cada uma em suas especificidades, ou seja, não é suficiente apenas
frequentar a escola, o mais importante é criar possibilidades para
favorecer a aprendizagem dessas crianças.
REFERÊNCIAS
BRAGA
et al. Problemas de
aprendizagem e suas relações com a família, Rev. Psicopedagogia
2007; 24(74): 149-59. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoped/v24n74/v24n74a06.pdf>
acesso em 3 de abril de 2018
BOSSA,
Nádia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da
prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
LAMOGLIA,
Aliny, Mara Monteiro da Cruz. -Psicopedagogia. v. 1. /Rio de Janeiro:
Fundação CECIERJ, 2014.
Munhoz
MLP, Scatralhe MCR. Família e escola na compreensão dos
significados do processo escolar. Rev. Psicopedagogia
2012;29(88):55-65 Disponível
em:<http://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/146/familia-e-escola-na compreensao-dos-significados-do-processo-escolar>
Acesso em: 3 de abril de 2018
RUBISTEIN,
Edith (org). Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São
Paulo, 4º edição, Casa do Psicólogo, 2012.