sexta-feira, 20 de abril de 2018

A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO FAMILIAR PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NA CRIANÇA E SUA ATUAÇÃO NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM



Por: Dorcelina Lima
A família tem um papel relevante no desenvolvimento cognitivo das crianças, visto que é no seio familiar que se efetiva as primeiras aprendizagens. Sendo assim é importante salientar o grupo familiar como fator relevante no processo de aprendizagem da criança, seja para favorecer uma aprendizagem significativa, ou para dificultá-la. Neste sentido, as relações familiares estão em pauta na questão dos problemas de aprendizagem.
Uma parcela enorme de crianças em todo Brasil sofrem com problemas de aprendizagem, de acordo com Rubinstein (2012), apesar dos esforços de estudiosos nas áreas da Psicologia, Neurologia e Psicopedagogia para melhorar essa perspectiva, família e escola apresentam queixas de aprendizagem. A autora relata que 90% das crianças que procuram atendimento clínico mental demostram ter problemas na escola.
Nesta visão, Braga et al(2007), esclarecem que existem muitas questões referentes ao fracasso escolar que devem ser compreendidas de diferentes formas, dentre elas, fatores orgânicos, cognitivos e afetivos, a estrutura familiar, o contexto social e as instituições de ensino, além das relações estabelecidas no cotidiano escolar. “As crianças se tornam fracassadas escolares a partir do modo como a escola aborda, ataca, nega e desqualifica, o degrau, a diferença social, o desencontro de linguagens entre as crianças de extração pobre de um lado, e a escola comprometida com outras extrações sociais de outro”, (RUBINSTEIN, Edith,2012, p.56)
Neste sentido Braga (2007) relata que estudos comprovados pela Psiquiatria e outras áreas, afirmam que uma criança bem cuidada pela família é de importância ímpar para sua saúde mental futura. A autora ainda conversa com diversos autores que falam da influência das relações familiares na aprendizagem. Neste sentido O diálogo entre pais e filhos, as vivências de atitude de amor e respeito, as regras, os valores sociais são relevantes para a formação da personalidade, do caráter, assim como na aprendizagem. Assim, Munhoz (2012) declara que “o ensino/aprendizagem dos filhos ganha significado para os pais, quando eles entendem e tomam conhecimento sobre a missão e objetivos da escola de seu filho”.
Para Nádia Bossa (2000) a dimensão da afetividade é fundamental no processo de aprendizagem escolar e nas relações de um modo geral, quer sejam relações interpessoais, quer seja nas relações do próprio sujeito com a realidade. Para a autora o mundo afetivo se inicia na relação com as primeiras pessoas que fazem parte da nossa vida. Neste ponto de vista, a participação da família no espaço escolar é muito importante para o processo ensino aprendizagem. Família e escola são a estrutura que fazem com que a criança estabeleça relações com o meio social. A família e a escola integrada, constituem um desafio, já que unidas podem perceber dificuldades de aprendizagem que a criança a priori possa apresentar, sendo como um suporte uma em benefício outra. Nesta perspectiva:

O conhecimento é o conjunto do saber histórico de uma comunidade que é suscetível de ser transmitido. Os processos que permitem a transmissão efetiva do conhecimento são os da aprendizagem. Uma criança só aprende algo a partir do outro, da relação com o mundo, e portanto, com o outro, ela será capaz de modificar numa reconstrução própria, utilizando seus sentimentos e sua cognição, a fim de se apropriar do conhecimento que vai adquirindo nessas relações. (BRAGA et al, 2012)

Para que haja a participação efetiva da família na escola, é preciso uma mudança de atitude por parte do grupo familiar e escolar. É normal pais acharem que o contato tem que ser estabelecido pela escola, enquanto a escola, no que lhe diz respeito, coloca todo encargo sobre a família. Em muitos casos, os pais só são acionados quando acontece algo muito sério com o aluno. Em outros casos, quando a família procura a escola, a instituição, nem sempre está preparada para um bom acolhimento, e o inverso também acontece. Neste sentido, a missão da escola/família é a de desconstruir essa problemática com diálogo, criando estratégias positivas para aproximar ambos, e isso tem que ser o dever de toda a comunidade escolar.
Para que isso ocorra deve-se buscar a efetividade das relações família/escola, fazendo com que o conselho escola/comunidade funcione de fato, que temas importantes sejam tratados, que soluções sejam buscadas em conjunto, que não se crie preconceito de ambas as partes, da família em relação a escola e vice-versa, desenvolvendo assim ações de parceria.
Para Munhoz:
Acreditamos que as escolas precisam ter dentro de suas equipes de trabalho pedagógico a figura do orientador educacional, com enfoque ao trabalho de orientação ao professor, para que os espaços de conversas na escola possam ser além de instalados, efetivos e duradouros. Apesar de todas as “concorrências” que a escola sofre com as diferentes atividades oferecidas às crianças e aos jovens, podemos considerar que o poder ainda aparente dessa instituição deve ser valorizado e otimizado, não como erroneamente muitas vezes se faz, usando autoridade e autoritarismo, mas criando a possibilidade de conversas e compreensão entre as partes é que se obtém. (MUNHOZ,2012)


Lamoglia (2014,p.53), esclarece que a escola ao receber um aluno com algum tipo de dificuldade, seja de relacionamento, de linguagem, ou outra, deve proceder orientando a família para que busque uma avaliação com um Neurologista ou Psiquiatra para que este diagnostique a causa do problema. De posse do laudo médico a família deve ser orientada para procurar especialistas como Psicopedagogo Clínico, fonoaudiólogo entre outros, dependendo da investigação feita na criança. Estes profissionais acompanharão o desenvolvimento do aluno e trabalhar em conjunto com a escola.
No que tange aos profissionais da escola, estes devem ser orientados a fazer caso necessário adequações curriculares que serão importantes para a adaptação desses alunos em cada caso específico. Mesmo que não haja um diagnóstico fechado, a escola deve entender que cada criança tem uma maneira única de aprender, considerando cada uma em suas especificidades, ou seja, não é suficiente apenas frequentar a escola, o mais importante é criar possibilidades para favorecer a aprendizagem dessas crianças.


REFERÊNCIAS

BRAGA et al. Problemas de aprendizagem e suas relações com a família, Rev. Psicopedagogia 2007; 24(74): 149-59. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoped/v24n74/v24n74a06.pdf> acesso em 3 de abril de 2018

BOSSA, Nádia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

LAMOGLIA, Aliny, Mara Monteiro da Cruz. -Psicopedagogia. v. 1. /Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2014.

Munhoz MLP, Scatralhe MCR. Família e escola na compreensão dos significados do processo escolar. Rev. Psicopedagogia 2012;29(88):55-65 Disponível em:<http://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/146/familia-e-escola-na compreensao-dos-significados-do-processo-escolar> Acesso em: 3 de abril de 2018


RUBISTEIN, Edith (org). Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São Paulo, 4º edição, Casa do Psicólogo, 2012.