sexta-feira, 20 de abril de 2018

A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO FAMILIAR PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NA CRIANÇA E SUA ATUAÇÃO NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM



Por: Dorcelina Lima
A família tem um papel relevante no desenvolvimento cognitivo das crianças, visto que é no seio familiar que se efetiva as primeiras aprendizagens. Sendo assim é importante salientar o grupo familiar como fator relevante no processo de aprendizagem da criança, seja para favorecer uma aprendizagem significativa, ou para dificultá-la. Neste sentido, as relações familiares estão em pauta na questão dos problemas de aprendizagem.
Uma parcela enorme de crianças em todo Brasil sofrem com problemas de aprendizagem, de acordo com Rubinstein (2012), apesar dos esforços de estudiosos nas áreas da Psicologia, Neurologia e Psicopedagogia para melhorar essa perspectiva, família e escola apresentam queixas de aprendizagem. A autora relata que 90% das crianças que procuram atendimento clínico mental demostram ter problemas na escola.
Nesta visão, Braga et al(2007), esclarecem que existem muitas questões referentes ao fracasso escolar que devem ser compreendidas de diferentes formas, dentre elas, fatores orgânicos, cognitivos e afetivos, a estrutura familiar, o contexto social e as instituições de ensino, além das relações estabelecidas no cotidiano escolar. “As crianças se tornam fracassadas escolares a partir do modo como a escola aborda, ataca, nega e desqualifica, o degrau, a diferença social, o desencontro de linguagens entre as crianças de extração pobre de um lado, e a escola comprometida com outras extrações sociais de outro”, (RUBINSTEIN, Edith,2012, p.56)
Neste sentido Braga (2007) relata que estudos comprovados pela Psiquiatria e outras áreas, afirmam que uma criança bem cuidada pela família é de importância ímpar para sua saúde mental futura. A autora ainda conversa com diversos autores que falam da influência das relações familiares na aprendizagem. Neste sentido O diálogo entre pais e filhos, as vivências de atitude de amor e respeito, as regras, os valores sociais são relevantes para a formação da personalidade, do caráter, assim como na aprendizagem. Assim, Munhoz (2012) declara que “o ensino/aprendizagem dos filhos ganha significado para os pais, quando eles entendem e tomam conhecimento sobre a missão e objetivos da escola de seu filho”.
Para Nádia Bossa (2000) a dimensão da afetividade é fundamental no processo de aprendizagem escolar e nas relações de um modo geral, quer sejam relações interpessoais, quer seja nas relações do próprio sujeito com a realidade. Para a autora o mundo afetivo se inicia na relação com as primeiras pessoas que fazem parte da nossa vida. Neste ponto de vista, a participação da família no espaço escolar é muito importante para o processo ensino aprendizagem. Família e escola são a estrutura que fazem com que a criança estabeleça relações com o meio social. A família e a escola integrada, constituem um desafio, já que unidas podem perceber dificuldades de aprendizagem que a criança a priori possa apresentar, sendo como um suporte uma em benefício outra. Nesta perspectiva:

O conhecimento é o conjunto do saber histórico de uma comunidade que é suscetível de ser transmitido. Os processos que permitem a transmissão efetiva do conhecimento são os da aprendizagem. Uma criança só aprende algo a partir do outro, da relação com o mundo, e portanto, com o outro, ela será capaz de modificar numa reconstrução própria, utilizando seus sentimentos e sua cognição, a fim de se apropriar do conhecimento que vai adquirindo nessas relações. (BRAGA et al, 2012)

Para que haja a participação efetiva da família na escola, é preciso uma mudança de atitude por parte do grupo familiar e escolar. É normal pais acharem que o contato tem que ser estabelecido pela escola, enquanto a escola, no que lhe diz respeito, coloca todo encargo sobre a família. Em muitos casos, os pais só são acionados quando acontece algo muito sério com o aluno. Em outros casos, quando a família procura a escola, a instituição, nem sempre está preparada para um bom acolhimento, e o inverso também acontece. Neste sentido, a missão da escola/família é a de desconstruir essa problemática com diálogo, criando estratégias positivas para aproximar ambos, e isso tem que ser o dever de toda a comunidade escolar.
Para que isso ocorra deve-se buscar a efetividade das relações família/escola, fazendo com que o conselho escola/comunidade funcione de fato, que temas importantes sejam tratados, que soluções sejam buscadas em conjunto, que não se crie preconceito de ambas as partes, da família em relação a escola e vice-versa, desenvolvendo assim ações de parceria.
Para Munhoz:
Acreditamos que as escolas precisam ter dentro de suas equipes de trabalho pedagógico a figura do orientador educacional, com enfoque ao trabalho de orientação ao professor, para que os espaços de conversas na escola possam ser além de instalados, efetivos e duradouros. Apesar de todas as “concorrências” que a escola sofre com as diferentes atividades oferecidas às crianças e aos jovens, podemos considerar que o poder ainda aparente dessa instituição deve ser valorizado e otimizado, não como erroneamente muitas vezes se faz, usando autoridade e autoritarismo, mas criando a possibilidade de conversas e compreensão entre as partes é que se obtém. (MUNHOZ,2012)


Lamoglia (2014,p.53), esclarece que a escola ao receber um aluno com algum tipo de dificuldade, seja de relacionamento, de linguagem, ou outra, deve proceder orientando a família para que busque uma avaliação com um Neurologista ou Psiquiatra para que este diagnostique a causa do problema. De posse do laudo médico a família deve ser orientada para procurar especialistas como Psicopedagogo Clínico, fonoaudiólogo entre outros, dependendo da investigação feita na criança. Estes profissionais acompanharão o desenvolvimento do aluno e trabalhar em conjunto com a escola.
No que tange aos profissionais da escola, estes devem ser orientados a fazer caso necessário adequações curriculares que serão importantes para a adaptação desses alunos em cada caso específico. Mesmo que não haja um diagnóstico fechado, a escola deve entender que cada criança tem uma maneira única de aprender, considerando cada uma em suas especificidades, ou seja, não é suficiente apenas frequentar a escola, o mais importante é criar possibilidades para favorecer a aprendizagem dessas crianças.


REFERÊNCIAS

BRAGA et al. Problemas de aprendizagem e suas relações com a família, Rev. Psicopedagogia 2007; 24(74): 149-59. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoped/v24n74/v24n74a06.pdf> acesso em 3 de abril de 2018

BOSSA, Nádia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

LAMOGLIA, Aliny, Mara Monteiro da Cruz. -Psicopedagogia. v. 1. /Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2014.

Munhoz MLP, Scatralhe MCR. Família e escola na compreensão dos significados do processo escolar. Rev. Psicopedagogia 2012;29(88):55-65 Disponível em:<http://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/146/familia-e-escola-na compreensao-dos-significados-do-processo-escolar> Acesso em: 3 de abril de 2018


RUBISTEIN, Edith (org). Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São Paulo, 4º edição, Casa do Psicólogo, 2012.




















sexta-feira, 23 de março de 2018

As dificuldades de aprendizagem e a pertinência em relação a queixa de TDAH: Proposta para superação dos sintomas


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As dificuldades de Aprendizagem causam impactos nas vidas de crianças na escola, na sociedade, e em suas famílias de variadas formas. Pais, professores, psicopedagogos, psicólogos, psicanalistas e afins, buscam maneiras de atenderem e compreenderem melhor as necessidades de aprendizagem dessas crianças.
A Psicopedagogia busca articular conhecimentos de outras disciplinas, através do conhecimento interdisciplinar e tem por objetivo estudar o processo de aprendizagem humana. O advento da Psicopedagogia se deu a partir de debates e pesquisas sobre o fracasso escolar, considerando que com o início da escolarização muitas crianças não conseguiam se ajustar, por apresentarem dificuldades na aprendizagem. O tratamento médico tipificou no primeiro momento as maneiras de compreenderem as dificuldades, que eram conferidas a causas orgânicas, explicando desse modo a exclusão escolar.
A Psicopedagogia abarca disciplinas como a Psicologia, a Antropologia, a Sociologia, a Psicanálise, a Psicolinguística. A Educação e a Neurologia caminham rumo a compreensão das múltiplas dimensões do sujeito que aprende na tentativa de construir conhecimentos que sejam significativos para as questões referentes a aprendizagem permitindo assim uma visão mais abrangente do fracasso escolar.
Na obra Psicopedagogia: teorias da aprendizagem (Barone et al,2013), as autoras organizaram para estudo e pesquisa as principais teorias da Psicologia desenvolvidas no século XX, que são referências para o fazer Psicopedagógico. Reavendo estudos filosóficos e científicos referentes ao desenvolvimento da aprendizagem humana. As autoras na obra em questão falam do valor que cada teoria tem e na necessidade de observarmos o seu enfoque no que se refere a nossa práxis dentro das perspectivas do nosso trabalho.
Compreender os fatores que influenciam o desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano não é uma tarefa fácil. No entanto,é preciso entender que as abordagens teóricas apresentam pontos importantes para se compreender como o contexto influencia no desenvolvimento e na aprendizagem do sujeito, uma vez que, os conteúdos genéticos não são suficientes para explicar como isso ocorre através do tempo. O ser humano no decurso de seu desenvolvimento passa também a compreender o significado de existir como sujeito, e o desenvolvimento cognitivo é primordial neste processo. O desenvolvimento da linguagem e do pensamento torna possível sua socialização, bem como a compreensão de fatores que ocorrem em sua vida.
Nesse sentido, O estudo da aprendizagem precisa estar engendrado nas teorias que fundamentam a prática psicopedagógica, embasando tanto o caráter preventivo, como o clínico. Portanto, a psicopedagogia vem contribuir com os sujeitos que possuem dificuldades de aprendizagem, que reprovam, que não conseguem acompanhar os seus colegas e que muitas vezes são “deixados” de lado no processo de ensino aprendizagem. A insatisfação e a inquietação dos profissionais que trabalham com as dificuldades de aprendizagem fizeram com que surgissem a psicopedagogia, no sentido de colaborar com os educandos que manifestam dificuldades de aprendizagem, como é o caso do Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
De acordo com Bourbon (2006) o aluno portador de TDAH, apresenta comportamento disperso, pois não consegue manter sua atenção e foco por tempo suficiente em apenas uma atividade específica, o que gera prejuízos a aprendizagem, não só no âmbito escolar, como também na família e nas relações sociais. Por esses motivos, de acordo com o site Universo tdah: 21% dos alunos com TDAH, tendem a trocar de escola com mais frequência, 45% sofrem suspensões, pois são tachados de indisciplinados, estabanados, que vivem no mundo da lua, entre outros nomes pejorativos, 30% repetem pelo menos um ano os estudos e 2% a 40% abandonaram os estudos, apenas 5%conseguem chegar a um curso universitário.
Para Pinheiro, 2010, o TDHA, se apresenta como uma desordem neurobiológica, de causas genéticas, tendo suas primeiras aparições na infância e pode acompanhar o indivíduo até a vida adulta. Tendo por características predominante a desatenção, inquietude e a impulsividade. Nesse sentido, na prática a soma desses fatores atrapalham e muito a vida da criança na escola.
Para Teixeira (2011), os sintomas descritos no portador de TDHA, são os responsáveis por uma série de prejuízos escolares, de relacionamento social e ocupacional, além de trazer um impacto negativo para o portador no sentido de interferir na vida familiar e na vida social como um todo.
jo (2002), explicita que crianças com sintomas de TDAH demonstram inquietude previamente, ainda no berço. Os sintomas geralmente se apresentam mais evidentes quando a criança vai para a escola, pois normalmente na instituição escolar são pouco toleradas. Nesse sentido o aluno já é tachado pejorativamente como indisciplinado.
Para Rohder (2003), o convívio de pais de crianças portadoras de TDHA com a escola é na maioria dos casos problemáticos, considerando que a maioria das escolas tem objetivos iguais para todos os alunos (relacionamento padronizado), onde as diferenças são desconsideradas nos indivíduos e os professores despreparados para atender esse grupo.
Nesse sentido, Bossa (2011), deixa claro que o papel da escola é construir conhecimentos, desenvolver valores, comportamentos e práticas democráticas bem como propiciar a harmonia entre corpo docente, discente, e a família, ou seja, toda a comunidade escolar. Portanto o Papel do Psicopedagogo na instituição escolar, é analisar e assinalar os fatores que auxiliam, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem.
Para Kiguel:
o objeto central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos – bem como a influência do meio (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento. (1991, p. 24).

Teixeira (2011), apresenta em sua obra, Desatentos e Hiperativos: Manual para alunos pais e professores, algumas estratégias que podem ser utilizadas como recursos em sala de aula que permitem melhorar a capacidade de atenção do aluno com TDAH, diminuindo os prejuízos resultantes de comportamentos hiperativos possibilitando ao aluno a aprendizagem. Segundo o autor estas estratégias podem auxiliar tanto o aluno com TDAH como alunos portadores de outros transtornos comportamentais, bem como aqueles que não apresentam nenhum tipo de dificuldade de aprendizagem.
Sendo assim podemos pontuar algumas dessas estratégias conforme explicitam o autor:
  • Estabelecer rotinas, como organizar e manter a sala de aula limpa e os materiais didáticos
  • Criar regras de sala de aula para manter a disciplinas
  • Agenda escola casa: para comunicar com os pais, mantendo o vínculo entre escola e família. Através dela informações importantes poderão ser tratadas sobre o comportamento do aluno nas dependências da escola.
  • Sentar na frente na sala de aula, facilita a mediação do aluno hiperativo e permite a intervenção ou elogio a bons comportamentos.
  • Matérias mais difíceis no início da aula: esta estratégia serve para os portadores de TDAH como para os outros alunos, pois no início da aula todos se encontram mais descansados, portanto mais abertos a aprendizagem.
  • Pausas regulares: todo mundo possui um determinado tempo de manter a atenção, sendo assim depois de um certo período nossa capacidade atencional se perde. Manter um espaço entre uma atividade e outra é importante para relaxar
  • .Ensinar técnicas de organização e relaxamento: alunos com TDAH tem muita dificuldade de organizar e planejar os estudos, nesse sentido o professor deve agir como mediador desta ação.
  • Trazer para a aula o dia a dia do aluno: contextualizar a disciplina com as vivências trazendo para a prática a cultura do mesmo.
O conhecimento do ser humano é o foco das discussões de dois teóricos importantes. Isto é, do alicerce cognitivo e da relação do indivíduo com o mundo que o cerca (Piaget), ou por meio da mediação de alguém próximo a este indivíduo (Vygotsky). Diante do exposto, fica a reflexão destes dois teóricos para que possamos compreender com mais afinco os conceitos na nossa práxis diária.

A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe” – Jean Piaget.
Através dos outros, nos tornamos nós mesmos” – Lev Vygotsky.


REFERÊNCIAS
ARAÙJO, Alexandra Prufer de Queiroz Campos, Avaliação e manejo da criança com dificuldade escolar e distúrbio de atenção. 2002. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/jped/v78s1/v78n7a13.pdf> acesso em 12 de fevereiro de 2018.

ARRUDA, Marco Antônio. Levados da Breca. 1. Ed. Ribeirão Preto: M. A. Arruda, 2006.

BARONE, Leda Maria Codeço et al. Teorias da Aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo.2011.


BOSSA, Nádia; OLIVEIRA Zilma de M. (orgs.). Avaliação Psicopedagógica da Criança de Sete a Onze Anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.


BOURBON, Sérgio Cabral. Os custos do TDAH, 2006. Disponível em: <http://www.universotdah.com.br/custos-tdah.html> acesso em: 08 de fevereiro de 2018


CARVALHO,Fabrício Bignoto et al. Distúrbios de Aprendizagem na visão do Professor. Artigo original. Rev. Psicopedagogia 2007.Disponível em:http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862007000300003> acesso em 02/02 de 2018

Pinheiro, Sara Cristina Aranha de Souza. CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE
DEFICIT DE ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE (TDAH) NO AMBIENTE
ESCOLAR. 2010.62 f. Dissertação (Graduação em Pedagogia- Anos Iniciais) – Departamento de Educação – Campus I, Universidade do Estado da Bahia, Salvador.Disponível em: <http://www.uneb.br/salvador/dedc/files/2011/05/Monografia-SARA-CRISTINA-ARANHA-DE-SOUZA-PINHEIRO.pdf> acesso em 02 de fevereiro de 2018

ROHDE, Luiz Augusto. Princípios e práticas em TDAH, transtorno no Deficit de Atenção/hiperatividade. Porto, Atmed-2003

TEIXEIRA, Gustavo. Desatentos e Hiperativos: Manual para alunos, pais e professores. Rio de Janeiro: Best seller LTDA, 2011.

KIGUEL, Sonia Moojen. Reabilitação em Neurologia e Psiquiatria Infantil Aspectos Psicopedagógicos. Congresso Brasileiro de Neurologia e Psiquiatria Infantil – A Criança e o Adolescente da Década de 80. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Abenepe, vol. 2, 1983.
























O normal e o patológico considerando o 
desenvolvimento e a aprendizagem

Por Dorcelina Custódio de Souza Lima Março/2018

A escola é o primeiro lugar em que se manifestam os indícios, as reclamações dos problemas e dificuldades de aprendizagem. É nessa perspectiva, que surge a Psicopedagogia para colaborar e contribuir com todos os indivíduos que fazem parte do universo educativo.
De acordo com Bossa (2007), é função da psicopedagogia refletir sobre o que é educar, o que é ensinar e aprender; como se desenvolvem estas atividades; como afetam subjetivamente os sistemas e metodologias educativas; quais as dificuldades basilares que influenciam no surgimento dos transtornos da aprendizagem e no fracasso escolar; e que propostas de mudança surgem neste espaço. Ou seja, para a autora o Sujeito aprendente é o objetivo maior das perguntas do psicopedagogo, e receptor de sua práxis educativa.
A autora ainda esclarece que o objeto de estudo da psicopedagogia passou por diferentes fases, e foi entendido de várias maneiras. Num primeiro momento, era o indivíduo que não podia aprender; em segundo lugar, o fato do sujeito não-aprender, é gerado e carregado de significados que esclarecem o seu não-aprender. A partir dessa visão o avanço desta área de estudo passou a entender que o objeto de estudo do Psicopedagogo, é sempre o sujeito em processo de aprendizagem.
O psicopedagogo pode atuar de forma preventiva e clínica. Neste sentido, podemos então falar em diferentes níveis de prevenção. No primeiro, o psicopedagogo atua nos processos educativos com o objetivo de diminuir a frequência dos problemas de aprendizagem, tendo como propósito as questões didáticos metodológicas, bem como na formação e orientação dos professores, além do aconselhamento a família. Num segundo momento, o objetivo maior é tratar os problemas de aprendizagem já instalados, criando um diagnóstico da realidade institucional e elaborando planos de intervenção baseados na realidade diagnosticada. E no terceiro momento, o grande objetivo é eliminar os transtornos já instalados, a partir de um procedimento clínico com todas as suas implicações. Na práxis clínica, o psicopedagogo deve reconhecer a sua própria subjetividade na relação, pois o mesmo é um indivíduo que estuda outro.
O estudo da aprendizagem precisa estar engendrado nas teorias que fundamentam a prática psicopedagógica, embasando tanto o caráter preventivo, como o clínico. Portanto, a psicopedagogia vem contribuir com os sujeitos que possuem dificuldades de aprendizagem, que reprovam, que não conseguem acompanhar os seus colegas e que muitas vezes são “deixados” de lado no processo de ensino aprendizagem. A insatisfação e a inquietação dos profissionais que trabalham com as dificuldades de aprendizagem fizeram com que surgissem a psicopedagogia, permitindo que diversas áreas do conhecimento como Psicologia Cognitiva, Psicanálise, Sociologia, Linguística, Antropologia, Filosofia, entre outros, no sentido de colaborar os educandos que manifestam dificuldades de aprendizagem.
Sendo assim a aprendizagem está elencada ao processo de aquisição dos conhecimentos, habilidades, valores e atitudes adquiridos através do estudo, do ensino ou da experiência.
Para Nádia Bossa (2000), aprender significa desenvolver habilidades para lidar com a realidade externa, desde a habilidade da fala, de se relacionar, comer, estudar e aprender questões complexas que são tratadas no mundo escolar. A autora esclarece que para aprender nós necessitamos da nossa condição humana. Nesse sentido nos transformamos a partir da aprendizagem. Sendo assim, o processo envolve a participação do sujeito da aprendizagem, ou seja, quando aprendemos estão envolvidos neste processo nossa inteligência e os processos cognitivos, nosso corpo como instrumento de apreensão dos objetos de conhecimento, nossa condição efetiva e emocional e a condição biológica do nosso organismo.
As autoras José e Coelho (1993), falam da importância dos pais, educadores e professores nos processos fundamentais do desenvolvimento humano. Para as autoras “desenvolvimento abrange todas as modificações, que ocorrem no organismo e na personalidade”. Nesta visão as autoras esclarecem que é o desenvolvimento corporal, orgânico, neurológico que abarca os padrões internos que resultam o comportamento. Nesta perspectiva a maturação gera o desenvolvimento potencial do organismo independente de situações como treino e estimulação ambiental. Sendo assim na visão das autoras o cérebro precisa de maturação para que a aprendizagem se processe. “Toda atividade humana depende da maturação. Desde o mais simples comportamento como segurar um objeto até as abstrações e raciocínios mais complexos”. (José e Coelho, 2009,p. 10).
Nesse sentido as autoras explicitam que a aprendizagem precisa ser significativa para os educandos. Dentro desta perspectiva David Alsubel (1982), salienta que a aprendizagem significativa se realiza somente quando um novo conhecimento se conecta a outro existente de forma substantiva. Para que isto aconteça é necessário querer aprender. No entanto, é preciso um contexto de ensino potencialmente significativo, articulado pelo professor que leve em conta as condições em que o aluno é posto, e a aplicação social do instrumento a ser estudado.
José e Coelho(2009), ainda explicam que, a aprendizagem precisa de motivação. No entendimento das autoras, desde o início de seu desenvolvimento as crianças precisam ser motivadas para que não venham fracassar em seu crescimento cognitivo. Pois o medo de fracassar faz com que elas deixem de tentar um novo comportamento. Nesse sentido o papel do professor é muito importante para influenciar a construção da autoimagem e o modo como eles se veem. É importante que o professor conheça como ocorrem as manifestações da mente infantil dentro de suas faixas etárias para não incorrer no erro de considerar os problemas que são considerados normais no progresso evolutivo do desenvolvimento das crianças tais como o onimismo e o egocentrismo. Neste sentido as autoras explicitam que tendo conhecimento da psicologia e da didática ele deve ter sempre em mente o que é normal, problemático e anormal(patológico) no comportamento da criança e em seu desenvolvimento e habilidades nas diferentes fases. Sendo assim, compete ao professor fazer o reconhecimento das particularidades próprias do comportamento infantil em cada faixa etária.
Para que a criança tenha um desenvolvimento saudável é preciso um ambiente harmonioso, autêntico, onde ela encontre amor e segurança, que satisfaçam as necessidades inerentes a sua condição infantil. Quando isso não ocorre acontece uma luta entre o que a criança exige e o ambiente em que a criança faz parte. Inevitavelmente isso levará a criança a um estado de desequilíbrio, que poderá gerar comportamentos problemáticos ou patológicos.
José e Coelho apud Mielnik p. 25, esclarecem que (…) “a problemática abrange especialmente o relacionamento difícil com o meio e as pessoas”. Para as autoras as crianças podem apresentar dificuldades emocionais, supersensibilidade, sentimento de rejeição, sensação de pânico em certas situações, comportamento ansioso ou infantilização. Ainda sobre o autor citado pelas autoras, quando este quadro persistir se tornando uma compulsão deve-se considerar o quadro como anormal ou patológico. Sendo assim a conduta normal ou patológica pode ser de origem genética ou ambiental.

REFERÊNCIAS
AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982
JOSÈ Elizabete da assunção; Maria T C. Distúrbios da Aprendizagem, 12ª edição. São Paulo, Ática, 2009
BOSSA, Nádia A. A psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da prática Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000a
























A importância da atenção e da memória para o processo de aprendizagem

Dorcelina Custódio de Souza Lima março/2018

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Por intermédio da atenção o sujeito escolhe os estímulos que aparentam ter mais importância e que sejam mais atrativos a nossas predileções, intenções ou funções imediatas e veta as que não sejam de grande importância, neste sentido a atenção é imprescindível na aprendizagem. O cérebro muda em contato com o ambiente continuamente. A formação da memória é mais eficiente quando a nova informação é associada a um conhecimento anterior.
Precisamos nos concentrar em certas características do ambiente e descartar outras, pois se não fosse assim, a quantidade de informação armazenada em nossa mente seria imensa e desorganizada que nos impediria de realizar qualquer atividade. Pela atenção, aquilo que armazenamos em nossa mente são integrados e por isso podemos externar nossos conteúdos intelectuais e reflexivos. De acordo com Ferreira (2014), estímulos ou eventos externos chamam a nossa atenção, mas a atenção pode ser direcionada a estímulos endógenos ou fenômenos mentais relacionados com a motivação e a vontade. Nesse sentido a autora esclarece que a atenção está relacionada com a consciência, o estado de alerta, os afetos, a motivação, a memória e a percepção.
Piper (2013), esclarece que um bom resultado na aprendizagem é definido por múltiplos fatores, dentre os quais são destacados a atenção, motivação, dedicação, necessidade e fatores cognitivos. A atenção é importante para que se consiga apreender e armazenar na memória de longo prazo os dados que nos são apresentados. A motivação e a necessidade dão substancialidade à aprendizagem. Nesta perspectiva, (Ferreira 2014,p. 107) esclarece que “Só com a atenção intacta é que os processos cognitivos podem acontecer”.
Kandel (2009, p.339) destaca que “a atenção é como um filtro”, em que alguns objetos são colocados em destaque, em detrimento de outros, nesta visão, Prestar atenção em algo significa dar foco a determinados aspectos e, ao mesmo tempo, descartar (ou ignorar) inúmeros outros que estão a nossa volta.
A todo momento, os animais são inundados por um vasto número de estímulos sensoriais e, apesar disso, eles prestam atenção a apenas um estímulo ou a um número muito reduzido dele, ignorando ou suprimindo os demais. A capacidade do cérebro de processar a informação sensorial é mais limitada do que a capacidade de seus receptores para mensurar o ambiente. A atenção, portanto, funciona como um filtro, selecionando alguns objetos para processamento adicional. [...] Em nossa experiência momentânea nos concentramos em informações sensoriais específicas e excluímos (mais ou menos) as demais (KANDEL, 2009, p.339).
O estudo da atenção investiga como o cérebro seleciona os estímulos sensoriais que descarta dos que devem ser transmitidos para níveis superiores de pensamentos. A atenção
está relacionada a vários fatores: o alerta, controla o nível geral de responsividade, a orientação alinha os órgãos sensoriais para determinado estímulo, a atenção seletiva dá preferência a determinado estímulo entre outros conteúdos definidos que estão em nossa consciência, a atenção sustentada mantém a vigilância; a atenção dividida possibilita que o foco atencional seja dividido em vários estímulos ao mesmo tempo.
Segundo Sternberg (2000) a memória é o acesso por onde buscamos experiências anteriores, com o intuito de utilizar essa informação no presente. Sendo assim a memória é a habilidade de atrair, guardar e recuperar as informações disponíveis.
Para Lent (2001), há uma sucessão de episódios nos processos mnemônicos, o primeiro é a aquisição da informação, processa-se o armazenamento e por fim a recuperação da informação através da recordação. A atenção é um fator primordial para a aprendizagem, sendo assim a aprendizagem faz com que os aspectos da memória sejam ligados, nesta perspectiva, quando o indivíduo tem um bom nível de atenção e um bom nível de memória, consequentemente terá um bom nível de aprendizagem. Logo, atenção, memória e aprendizagem estão relacionadas no processo de desenvolvimento dos sujeitos.
De acordo com Ferreira (2012,p.127), “somos quem somos porque lembramos do que vivemos, e dessa forma construímos nossa identidade.” Para a autora o indivíduo pode pensar que é fruto de suas escolhas, no entanto só sabemos das escolhas feitas que nos lembramos e do que elas nos ensinam. A memória liga presente e passado assim nos prepara para nossa experiência de futuro, agregando nossos pensamentos e impressões pela sua capacidade de reter informações e ajustá-las conforme seus propósitos.
A autora ainda esclarece que a memória é dividida em curto e longo prazo. A memória de curto prazo retém por minutos ou horas pequenas quantidades de material. Ela codifica a informação sensorial ou de superfície, ao passo que, a memória de longo prazo, dura dias, semanas, anos e faz a codificação profunda ou semântica.
As memórias e a atenção são alguns dos preditores de maior destaque para uma aprendizagem adequada. A memória de trabalho é uma das memórias que recebe grande ênfase na aprendizagem pois ela, além de manipular informações novas advindas das vias sensoriais, faz a ligação com a memória de longo prazo, ou seja, com o conhecimento já armazenado. A memória de trabalho é um componente da função executiva que armazena e retém temporariamente a informação enquanto uma determinada tarefa está sendo realizada, assim, esta memória dá suporte às atividades cognitivas (PIPER, Francieli Kramer,2013,p.2)
Iván Izquierdo destaca a aproximação entre memória e Educação, na visão do autor, só podemos considerar uma informação como aprendida quando podemos lembrar-nos dela.
Memória” significa aquisição, formação, conservação e evocação de informações. A aquisição é também chamada de aprendizado ou aprendizagem: só se “grava” aquilo que foi aprendido. (IZQUIERDO, 2011, p. 11).
A memória pode ser subdividida em etapas:

EVENTOS EXTERNOS > SELEÇÃO > AQUISIÇÃO >RETENÇÃO TEMPORÁRIA >
CONSOLIDAÇÃO >RETENÇÃO DURADOURA

Aquisição é tudo aquilo que a gente interage com o meio através dos sentidos que vão originar memória, um registro no córtex cerebral, não importando qual sentido vai ser, verbal, visual, gustativo, tátil, motor etc. A partir dos sentidos nós temos entradas de sinais no córtex cerebral onde vamos ter a formação das memórias, ou seja, o aprendizado. Somos aquilo que recordamos e também o que resolvemos esquecer. De acordo com Izqierdo, quanto mais usamos a memória (evocação) mais a fortalecemos, e menos esquecemos.
Por fim, falta de atenção não é sinônimo de indisciplina ou de desinteresse por parte do aluno. Ela pode ser gerada por um fator que causou desinteresse ou por situações adversas à aprendizagem. Para uma aprendizagem significativa, o professor deve atentar para a interação entre o que ele sabe e o saber do aluno, contextualizando e refletindo sobre a sua prática, moldando-a caso seja preciso. Aprender não é só memorizar informações. É necessário fazer referências, desconstruir e refletir, repensar, construir hipóteses e testá-las, para que os conteúdos sejam apreendidos e fiquem na memória do aluno, oferecendo assim possibilidades de novas aprendizagens.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, Maria Gabriela Ramos. Neuropsicologia e aprendizagem. Curitiba. Intersaberes, 2014

IZQUIERDO, Ivan. Questões sobre memória. São Leopoldo: Unisinos, 2004.

KANDEL, E. R. Em busca da memória. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
LENT R. Cem bilhões de neurônios: os conceitos fundamentais da neurociência. Editora Atheneu. São Paulo, 2001.

PIPER, Francieli Kramer. A IMPORTÂNCIA DA MEMÓRIA DE TRABALHO PARA A APRENDIZAGEM,2013.Disponível em <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/XIII_semanadeletras/pdfs/francielipiper.pdf> Acesso em 02 de março de 2018.

STEMBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.


















terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O professor  André Azevedo da Fonseca  lembra aqui que Paulo Freire é mais estudado, utilizado e influente nas universidades mais inovadoras do mundo, como Harvard, Stanford e Princeton, do que nas escolas brasileiras, onde a sua pedagogia raramente é estudada e aplicada. Ele escreveu um artigo para demonstrar como é fácil verificar isso: http://www.brasilpost.com.br/andre-azevedo-da-fonseca/serie-de-videos-explica-p_b_7684470.html segundo ele as escolas brasileiras são o contrário do que Freire propõe: autoritárias, mecânicas e habituadas a não relacionar os conhecimentos escolares com o mundo. Paulo Freire foi exilado, seus livros foram proibidos no Brasil e em seguida ele foi convidado para ministrar aulas em Harvard. Por isso ele é influente por lá. Ele foi o principal crítico das escolas brasileiras e por isso que para o pesquisador não tem sentido acusá-lo do contrário do que ele é. Naturalmente, aqueles que querem alunos passivos, subservientes e incapazes de pensar criticamente não gostam de Paulo Freire. Não é à toa que ele foi também o primeiro educador a denunciar o peso da doutrinação ideológica nas escolas - que se empenham para produzir alunos que automatizam os slogans da ideologia hegemônica.